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Festa de Rállouin!

Aproveito ainda o clima da festa de "Rállouin" para falar da minha lenda favorita, a do "Estado Laico". Trabalhando em Aracati, posso dizer fácil que o Estado é Laico 'pero no mucho'. Já me acostumei a conviver com o "pai nosso" nos mais diversos ambientes, desde os treinos de Jiu Jitsu, até as reuniões que acompanho da Prefeitura. Como se trata da fé alheia, por uma questão de respeito, escuto calado, dou as mãos e tudo, mas não me conformo... A postura que transparece é que todos ali devem reverência a deus, o que é aceitável, mas pela concepção e momento equivocado. O temor ao "criador" é louvável, mas enquanto relação de funcionalismo público, essa fé assume a noção de uma inspiração divina para o "bem comum", a "justiça" e a "felicidade", conceitos relativos a crença e intensidade de cada um.

Lembro bem de um documentário com o falecido Tancredo, que assistiu impressionado ao Círio de Nazaré e arrematou que um "povo desses" jamais ia aceitar o Ateísmo!!!

Nada contra rezar, acho até que questão por trás da reza, da oração é muito positiva, acredito no poder das palavras, e acho que esse momento tem uma função de concentração, e de socialização de uma energia que unifica pessoas. O problema não é esse, o problema é tornar obrigatório um momento desses na rotina pública de repartições e de entes supostamente laicos. Qual a justificativa para símbolos religiosos e dinâmicas espirituais em momentos extremamente materiais e puramente humanos? É buscar a inspiração de conceitos tidos como desejáveis, porém extremamente moralizantes pelo viés dos costumes e interpretações de cada seita. Compreendo a noção republicana de Estado como uma divisão entre os poderes públicos, onde essencialmente as igrejas não participam diretamente. Em tese pelo menos... Mas vai falar alguma coisa, vai pedir para que outra dinâmica de abertura das reuniões seja estabelecida, ou mesmo criticar em algum aspecto a "visão" religiosa que teima em se intrometer em assuntos Estatais que logo te tacham de "intolerante". Nesse meu tempo em Aracati, já vi momentos de conferência municipal com gente da igreja fardada com camuflagem do Exército, já vi fotos de eventos religiosos com crianças de 5,6 anos de roupinhas do Exército, sob encomenda, e isso é PREOCUPANTE. Pois o cristianismo, especialmente as vertentes evangélicas neopetencostais, tendem a assumir cargos públicos a partir da sua rede confessional de relações pessoais. E aí o que temos é uma agenda conservadora que tende a muitas vezes a estabelecer um diálogo desigual entre as diversas formas de religião. Nunca vi oração de outra matriz que não a cristã, pode candomblé? Umbanda? Pode Seicho No Ie? Pode União do vegetal? e que tal um momento para o pessoal do Vale do Amanhecer? O verdadeiro Estado laico deve respeitar todas as religiões e expressões de fé alheia, e nesse sentido é inconcebível o desrespeito a qualquer religião. Quem acompanha a agenda do Congresso, sabe muito bem que desde projetos de "cura gay" até o controverso PL do cunha (que dificulta a atenção médica às vitimas de estupro e penaliza os profissionais que atenderem esses casos) só o que se tem ouvido falar é dessa agenda conservadora, pautada em noções religiosas, que tem ganhado espaço a partir da 'ruptura' do governo petista e da 'derrocada' de seu projeto progressista. Existe um tom belicista pairando no ar, já analisado aqui: (http://www.bbc.com/…/2015/06/150622_entrevista_pastor_pai_jp) e acho importante que cristãos se posicionem para deslegitimar todo esse retrocesso de Cunhas e Felicianos, ou então vai ficar nítido que existe uma guerra em andamento, e não é espiritual, mas bem materialista, onde o destino final é disputa pelo poder econômico e político do Estado. E não será nada saudável para nossa democracia um modelo fundamentalista religioso, de nenhuma vertente inclusive. Aproveitando a oportunidade, enquanto Assistente Social, eu gostaria de compartilhar também a dissertação de um colega que pesquisou o neoconservadorismo: http://www.uece.br/…/doc_vi…/176-dissertacaopaulowescleypdf… Segundo PINHEIRO (2013), o fundamentalismo religioso, presente em amplos setores da sociedade, se espraia também na formação profissional, e tem efetivamente impresso uma ameaça real ao projeto ético político desde o contexto de formação em serviço social, até a vida profissional, a partir da incidência do caráter religioso nas percepções ético-políticas e teórico-metodológicas da profissão. Esse material e muitos outros estão disponíveis no endereço do Mestrado em Serviço Social da UECE (http://www.uece.br/mass).

Um abraço! 

Jonas Freitas (Assistente Social e Professor do Curso de Serviço Social da Faculdade do Vale do Jaguaribe - FVJ)

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